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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Mímica e Teatro Físico, a grande surpresa do teatro de Cabo Frio.

Nunca cobrei por minhas vivências de mímica, sempre fazia de forma graciosa e atendendo a chamado dos diretores da cidade, vez ou outra, pintava um dinheirinho mas o foco sempre foi divulgar e dar aos jovens, acesso à arte da mímica para que eles pudessem decidir qual escola seguir. Nem todos, no entanto, tiveram condições para seguir adiante, e, durante meus 12 anos de estada na cidade de Cabo Frio, não foram poucos os jovens que bateram à minha porta procurando o conhecimento deste tipo tão raro de teatro.

Daniel Arm, Gustavo Vieira e Sarah Fortes, a descoberta e colonização da arte da mímica para suas vidas de artistas
ainda iniciantes mas com grande talento e dedicação.


Desde que cheguei em Cabo Frio, em 2004, o cenógrafo, diretor de teatro e agitador cultural, hoje secretário de cultura da atual gestão do governo de Cabo Frio, José Facury. Me mostrou a cidade e os artistas locais. Foi amor à primeira vista. Ele me convidou para abrir o último festival estudantil, na época, só retomado 10 anos depois, coincidentemente, o retorno do FESTUD (Festival de Teatro Estudantil) teve, em sua 12ª edição, a minha participação de forma indireta, pois, sendo professor do OFICENA - Curso Livre de Teatro de Cabo Frio, tivemos uma forte representatividade neste festival, ocorrido em 2014.
A devastação política, causada por desentendimentos entre situação e oposição, amargou um atraso na vida teatral da cidade que não tem como mensurar, apesar disso, sempre houve resistência e a arte seguiu se adaptando, como um rio que contorna os barrancos. No ano de 2004 dei minha primeira oficina de mímica, em que participaram, entre muitos artistas locais, o ator Cesar Valentin e o, hoje, agitador cultural dos mais relevantes da cidade, Yuri Vasconcellos. Yuri, alguns anos depois, foi estudar com Júlio Adrião e criou seu primeiro solo narrativo, inspirado na obra de monteiro lobato, "A História das Invenções" já tem mais de 5 anos de vida. Neste espetáculo narrativo, Yuri utiliza técnicas de mímica, também, como expressão em cena. Além de Yuri e Cesar Valentin, alguns nomes estiveram presentes em minhas oficinas de mímica, tais como: Vivi Medina, Adassa Martins, Rafael Rodrigues, Bruno Peixoto, Louise Marrie, Julia Lima, Bárbara Morais, entre outros.

Em 2010, no Teatro Municipal de Cabo Frio, durante a realização do projeto 4X4 coordenado por Bruno Peixoto e
Fabio de Freitas, uma vivência em mímica que reuniu muita gente que batalha até hoje na vida artística de CABO FRIO
e RIO DE JANEIRO.

Entre uma e outra oficina, eu via aparecer nas minhas vivências, jovens vindos de diversas regiões de Cabo Frio e muitos já iniciados na arte do teatro, como Matheus Lima, que, algum tempo depois, foi estudar em Londres, trouxe seus conceitos e conhecimentos na arte do teatro físico e enriqueceu a cidade fazendo, inclusive, uma faxina, na visão estética do principal grupo de teatro da cidade de Cabo Frio, o grupo Creche na Coxia que, além de abraçar uma nova pequisa corporal emplacou um novo espetáculo chamado Hominus Brasilis, e que hoje, depois de uma indicação ao prêmio Shell de 2014, tornou-se um dos mais importantes trabalhos do teatro corporal nesta década. "Hominus Brasílis", foi dirigido pelos próprios componentes do grupo e, posteiormente, revisado por Júlio Adrião, um dos fortes nomes do atual teatro brasileiro. Hoje, o grupo criador de Hominus Brasilis chama-se  "Cia de Teatro Manual" e está sediada no Rio de Janeiro e Niteroi.
O ator da nova geração de Cabo Frio, Matheus Neves
faz sua performance de puro teatro físico, dirigido
por Kéren Hapuk, no Fest Solos 2 - 2015.
Com o passar do tempo, Cabo Frio, de certa forma, foi se tornando um polo atrativo para a arte da mímica. Em alguns eventos importantes da cidade, a mímica esteve presente, destaco aqui o FESQ (Festival de Esquetes de Cabo Frio) um evento incrível, que já teve 3 oficinas minhas, ministradas durante sua realização. Foi bonito ver alguns jovens do Rio de Janeiro e outros estados, procurar minha oficina e trocar idéias sobre teatro físico. Nunca procurei passar técnica alguma, minha oficina é uma provocação que visa despertar o devir corporal no estudante-artista, a provocação, é necessária para conferir ao interessado, o máximo de curiosidade sobre esta arte e somente a partir daí, levá-lo ao contato com a diversidade de técnicas e referências existente no campo do teatro físico. Teatro Físico, na verdade, é o outro nome dado à mímica, que vive transformações constantes e, também, uma forma de se libertar da pantomima, uma forma mais popular de mímica que predominou durante a evocação dessa forma de expressão teatral, no ocidente.
Atualmente, não tenho dado oficinas de mímica em Cabo Frio, a não ser um ou outro exercício, aqui e ali, no contexto das aulas do OFICENA - Curso Livre de Teatro, onde ministro aulas, auxiliando o diretor de teatro Italo luiz Moreira. Através de muito diálogo co Italo, vou mostrando, na medida em que sou solicitado, um pouco das técnicas de mímica que vão contribuir na formação livre do ator do OFICENA e contribuir para o resultado dos espetáculos que, variam entre Cenas Curtas e Repertório definido. Atualmente são duas as peças de repertório da Companhia Teatral OFICENA: "O Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna, onde assino a direção junto com o mestre Italo Luiz Moreira e "O Inspetor Geral" de Nikolai Gógol, também direção mútua com este grande diretor, o Italo.

Com direção de Jean Monteiro - Harley de Bragança, divertiu o público do
Fest Solos 2 - 2015, com uma brilhante e inesperada performance que fez
a platéia desabar em risos!
Recentemente, no entanto, tive uma alegria rara e inesperada; 5 artistas estudantes da cidade abraçaram de forma visceral a arte da mímica, para minha surpresa, demonstraram familiarizados com a arte da pantomima; São eles: Jean Monteiro, Gustavo Vieira, Daniel Arm, Harley de Bragança, Keren-Hapuk, Matheus Noves e Sarah Fortes. Esta última, inclusive, com apenas 14 anos de idade, fez um belíssimo solo no fesTSolos 2 - 2015, com a performance Lorelice vai ao Baile. Jean Monteiro, fez uma direção artística do ator-estudante Harley de Bragança; já, Gustavo Vieira, criou seu primeiro solo de mímica utilizando seu histrionismo natural e seu dom avassalador para a comédia, na cena "O Banho". Daniel Arm, já trabalhado na arte da palhaçaria, é um ator-estudante com fortes características para a arte da mímica, sua criação dramática "Clow Hamlet" impressionou a platéia de Cabo Frio, durante o fesTSolos 2 - 2015. Já, o jovem aspirante a ator, Matheus Neves, dirigido por Kéren-Hapuk, impressionou com sua performance de Teatro Físico, levando ao palco um curioso personagem inspirado no homem das cavernas.
Vejo grandes possibilidades na arte da mímica na Cidade de Cabo Frio, uma nova geração está surgindo e parece buscar um contato mais direto com a arte da mímica; mergulhar mais fundo na linguagem e disposta a descobrir novas possibilidades. Por enquanto, ainda fico apreensivo. Será que Cabo Frio vai ser tonar um celeiro da mímica?