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Jiddu em performance no parque Terra Encantada - RJ - 1997 |
Num
exame de consciência sobre meus 30 anos de teatro, 22 como mímico; 11 como contador de histórias e uma vida
devotada à arte, do meu jeito, deparei-me com diversas reminiscências. Lembrei
dos momentos de sucesso, dos amores, das salas vazias, do público amigo e dos
momentos de invisibilidade, rompidos, agora, com o manejo da internet. Lembrei
dos sonhos frustrados, das promessas que não se cumpriram, das possíveis
“traições”; Lembrei também dos momentos antológicos: os rostos que vi nas
plateias que me prestigiaram e lembrei, ainda, dos profissionais, dos
aprendizes, dos ex-alunos, dos parceiros e elos formados ao longo do caminho.
O
passado mostra exatamente o presente que construímos; quando observamos nossas
decisões, quando fazemos nossas escolhas, é ele, tão somente ele, que nos leva
à grande pergunta. Porque estou aqui? Por que isso aconteceu comigo dessa
forma? Uma sensação boa de um vazio saudável e ao mesmo tempo uma nostalgia
quase bucólica, nos coloca diante de uma vida, que poderia ter sido outra,
qualquer outra. Esse mergulho no ser, essa estranha valsa que parecemos dançar
ao redor de um salão às vezes cheio, às vezes vazio, às vezes démodé.
Estamos
agora aqui, vendo esse tempo, vivendo esse momento. Estamos diante de algo,
estamos num lugar, numa era. Estamos realizando ou não, estamos rodeados de
amigos, ou não, estamos felizes, ou não. São caminhos que continuam em aberto,
olhares que nos miram de algum lugar, sensações que nos buscam lá no íntimo,
revelações que vão aos poucos, colocando em cheque, nossa alma, nossa ética,
nossos delírios, nossas vidas.
Ser
artista é algo indecifrável, indefinível. É uma escolha cósmica, quase
transcendental, mas acho que isso se aplica ao ser; se dirige ao ser de
qualquer profissão escolhida com amor, com paixão. A escolha pela arte é uma
espécie de decisão contida e fluente de repartir o pão, de comer na mesa dos
reis e dos comuns, de estar identificado com tudo e com nada, de seguir uma
estrada configurada por metáforas onde nos tornamos ricos, pobres, alegres e
deprimidos, juntos e evadidos de nós mesmos.
Compartilhar
o que se tem, o que se pode dar, em troca do que o outro pode oferecer é um
jogo necessário na arte, essa riqueza única, esse caminho único que pode nos
levar e nos trazer numa gangorra de sonhos e na utopia pela liberdade plena, só
possível, talvez, com a morte. Sentir-se assim, é compartilhar isso e mais, é
pular amarelinha com a existência, mas, principalmente, existir, para si mesmo,
para os outros, para o todo.
Jiddu
Saldanha – 11.01.2013